A BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito das primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo consomem
em metros alexandrino.
Na biblioteca, em casa livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta
Manuel António Pina (2011). Poesia, saudade da prosa. Uma antologia pessoal.
Lisboa: Assírio & Alvim.
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